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Ásia se une em prol do café arábica!

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Por Flávia Maria de Mello Bliska e Antonio Bliska Júnior

Entre 11 e 12 de novembro de 2018 ocorreu na cidade de Mangshi, província de Yunnan, sudoeste da República Popular da China, a terceira Conferência da Associação Asiática do Café (sigla em inglês, ACA). Prestigiaram a Conferência representantes de outros países asiáticos, tais como Vietnã, Índia, Indonésia, Mianmar, Tibete, Nepal, Sri Lanka e Tailândia, alguns representantes da África e Américas, e representantes da Associação para Ciência e Informação sobre o Café (em inglês, ASIC).

Sob a égide chinesa, além da demonstração de união continental em prol do desenvolvimento de uma cafeicultura moderna, da produção agrícola à industrialização, a Conferência de 2018 exteriorizou o forte empenho político dos países asiáticos, bem como seus estratagemas e o entusiasmo que tem permeado a cafeicultura regional, demonstrados por meio dos diversos acordos de cooperação assinados durante a Conferência.

A expressividade e o sucesso da Conferência atingiram o ápice com o lançamento da certificação asiática para o café arábica verde de altitude, denominada certificação ABODY, e com a realização do concurso de qualidade de cafés arábica asiáticos, seguindo o sistema ABODY, do qual participaram juízes com experiência internacional.

A Associação Asiática do Café

A ACA é uma organização voluntária social sem fins lucrativos (ONG), composta por empresas, associações, instituições empresariais, instituições de pesquisa científica, fundações e outras organizações sociais da indústria cafeeira. Foi lançada em 2015 e registrada em 2017, como associação de café da região asiática, em Colombo, Sri Lanka. A Associação pretende manter apenas um escritório de representação, em Kunming, província de Yunnan, China. Os membros fundadores da ACA são China, Sri Lanka e Nepal. A associação tem cinco representantes para o comitê governante permanente, dois da China, dois do Sri Lanka e um do Nepal. Ela é gerida por um conselho de 13 países asiáticos, eleito pela assembleia geral. Seu conselho é o órgão com o mais alto nível de decisão e implementa o sistema de responsabilidades do presidente da Associação. Ela é considerada de fundamental importância ao desenvolvimento cafeeiro na Ásia, pois permite compartir informações e recursos entre o setor cafeeiro e as empresas e avalia os conhecimentos científicos e técnicos existentes sobre o café, para construir uma base de conhecimentos práticos e científicos. Foi criada levando-se em conta dois fatores principais:

  1. Com as expectativas de mudanças climáticas, especialistas asiáticos estimam que a Ásia possa concentrar áreas de produção de café; consequentemente, no futuro, o setor cafeeiro asiático poderá aproveitar as vantagens geográficas e climáticas regionais;
  2. As taxas de crescimento do consumo mundial de café indicam que, no futuro, a Ásia será capaz de liderar o consumo mundial, especialmente na China e na Índia, onde o consumo de café começou a crescer recentemente.

O principal objetivo da ACA, por meio da instituição de um padrão para o café asiático, é desenvolver negócios relacionados ao café na Ásia e em todo o mundo, para modernizar e o desenvolver a indústria asiática de café, aumentar a renda dos cafeicultores, construir estruturas apropriadas de preços do café, apoiar a marca de café asiática, desenvolver a cooperação internacional para a redução da pobreza e promover a cultura do café asiático. Seus objetivos específicos são:

  1. Facilitar o desenvolvimento da cadeia da indústria do café na Ásia, na criação de variedades, cultivo, processamento, intercâmbios técnicos, pesquisa científica e tecnológica, industrialização, resultados de pesquisas, mercado, etc.
  2. Estabelecer um sistema padrão para a indústria de café na Ásia.
  3. Promover o intercâmbio e a cooperação regional entre os setores cafeeiros da Ásia.
  4. Fornecer garantia organizacional e assistência técnica a todos os setores cafeeiros (particularmente para a cooperação regional em termos de lei e regulamentação).
  5. Promover o intercâmbio e divulgação de informações relacionadas à prática, legislação e regulamentação, etc., nos setores cafeeiros.
  6. Publicar revistas ou boletins para promover os objetivos acima.
  7. Organizar colóquio, simpósio, exposições, feiras de negócio e fóruns para promover os objetivos acima.
  8. Realizar atividades e projetos com outras organizações cafeeiras internacionais ou regionais para impulsionar a implementação dos objetivos acima.
  9. Construir uma plataforma inter-regional de cooperação, tendo cooperação win-win (“ganha-ganha”) como meta, vantagens complementares como base, mercado como orientação, indústria como diretriz e ativos como conexão, políticas de apoio para promover cooperação regional entre os setores industrial, financeiro, científico, tecnológico e cultural, para garantir o desenvolvimento da indústria do café na Ásia.
  10. Respeitar rigorosamente a constituição, a lei e a regulamentação de todos os países, bem como a ética comercial internacional.

Conferência Asiática Anual do Café de 2018

Semelhante às conferências anuais de 2016 e 2017, a Conferência da ACA de 2018 (ACAC) foi realizada na cidade de Mangshi, que deverá ser a anfitriã permanente de suas reuniões anuais. A Conferência se concentrou em: a) promover o sistema padronizado de café verde asiático; b) assinar acordos de cooperação; c) oferecer um Fórum Acadêmico sobre Inovação e Tecnologia para o Desenvolvimento da Indústria do Café, compartilhando descobertas científicas atualizadas; e d) expor produtos de café dos países asiáticos.

Acordos de cooperação assinados durante a Conferência da ACA em 2018:

  1. MOU* de cooperação em “Promoção do Desenvolvimento da Indústria Cafeeira do Sri Lanka”, entre os departamentos governamentais do Sri Lanka e a ACA;
  2. “Acordo de Cooperação em Importação e Exportação de Produtos de Café” entre empresas membros da ACA, do Sri Lanka, Nepal, Mianmar e outros países signatários com Dehonh Hogood Coffee Co., Ltd. e Yunnan Gongle Business Co., Ltd .
  3. MOU no estabelecimento do Centro de Comércio Internacional de café em Dehong, entre Beijing JD 360degree Electronic Commerce Co. Ltd., Yunnan Asia-Pacific Demonstration Electronic Port Network Operation Center, Shangai Doudian Technology Co. Ltd e Associação Asiática do Café.
  4. MOU de cooperação estratégica entre Associação Asiática do Café e o Grupo Kamelu.
  5. MOU de cooperação em ciência e tecnologia entre Dehong Hogood Coffee Co., Ltd. Centro de Investigação do Café da China e representantes dos projetos de pesquisa.
  6. MOU de “Co-criação da Cultura Mundial de Origem do Café” entre a Associação Asiática do Café e a Sociedade Etíope de Ciência do Café.

Os principais tópicos discutidos durante a conferência foram: 1) A Realidade Virtual da Indústria do Café; 2) O desenvolvimento do moderno Parque Industrial da Agricultura do Café; 3) Tecnologia Inovadora da Indústria do Café; 4) Café e Saúde e 5) Visão Geral do Desenvolvimento da Indústria Asiática de Café.

*MOU – Memorando de Entendimento: acordo não vinculativo entre duas ou mais partes, descrevendo os termos e detalhes de um entendimento, incluindo os requisitos e responsabilidades de cada parte.

Flávia Maria de Mello Bliska, do Centro de Café, Instituto Agronômico (IAC). Antonio Bliska Júnior, da Faculdade de Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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