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Boas Festas Cocapec: O Natal Mais Feliz - Por Alceu Rubens Morandini

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Boas Festas Cocapec: O Natal Mais Feliz - Por Alceu Rubens Morandini
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Autor: Alceu Rubens Morandini - ex-diretor da Cocapec - Livro Meus "Causos".[/caption]
“ Querido Papai Noel. Eu quero uma bicicleta de presente. Vê se desta vez o senhor não se engana. Muito obrigado”.
Letrinha caprichada, escrita com o mais puro sentimento, o bilhete foi colocado dentro do sapatinho que, por sua vez, estava depositado no rabo do fogão de lenha.
Todo ano, Alberto fazia pedidos a Papai Noel. Nunca fora atendido integralmente. O pobre velhinho sempre se enganava. Pediu bola de cobertão, ganhou bola de borracha, pediu roupa do homem morcego, recebeu um par de meias...
- Papai Noel se enganou, filhinho!
Daquela vez, tinha certeza, não haveria engano. Escreveu com letras bem grandes e bem mais legíveis que das outras. Agora ele já estava no terceiro ano do Grupo Escolar.
Tinha que dormir antes que o Papai Noel chegasse. Estava muito tenso, talvez não conseguisse conciliar o sono. Mas, nem de longe, poderia pensar nisso. Sua mãe sempre lhe explicara que se as crianças não estivessem dormindo na chegada do Papai Noel, ele se irrita e não deixa o brinquedo.
Achou que fora isso que acontecera nos últimos anos. Fingira que estava dormindo. O resultado fora desastroso. Não ganhara o presente solicitado. Os seus amiguinhos devem ter dormido mais cedo. Todos ganharam os brinquedos que pediram.
Lembrou-se das cenas desagradáveis e decepcionantes. Ele com uma bolinha de borracha, pequenininha. Os amiguinhos com bolas de verdade, com bicicletas lindas, velocípedes, aviões, caminhões enormes...
Dez horas da noite. A mãe estava visivelmente nervosa. Agitada. Passeava pelas dependências da pequena casa. Os outros dois filhinhos já dormiam. Tinha três. Alberto com dez anos, um de sete e outro de cinco.
Para o de cinco anos, estava fácil. Daria uma camisinha que ela mesma costurou aproveitando o tecido do vestido usado de sua irmã. O do meio pediu um caminhãozinho. Daria um jeito; mas e a bicicleta?
- Mamãe está na hora de dormir?
-Pode esperar mais um pouco, meu filho.
Questionou-se. Estaria correta a educação que ela e o marido estavam dando aos filhos?
Todos os meninos ainda acreditavam em cegonha, em Papai Noel...
Bidê é lugar para se lavar os pés, foi esta a explicação que deu a Alberto quando interpelada, depois da visita a um casal amigo.
Seus filhos eram inocentes, consequentemente felizes, mas e o amanhã?
A vizinha a recriminara várias vezes, alertando-a de que os filhos são educados para viverem em sociedade. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra...
Porém, como negar tudo o que ela lhe ensinara, num abrir e fechar de olhos? Como seria bom se os filhos não crescessem... que fossem sempre puros e felizes!
Alberto voltou à cozinha para se certificar se o bilhete estava mesmo dentro do sapatinho. Deu um beijo no bilhete e, com todo carinho, colocou-o novamente no sapato.
Fechou os olhinhos e suplicou: Meu querido Papai Noel, pelo amor de Deus, não vá se enganar de novo. Eu confio no senhor. Traga-me uma bicicleta toda azul...bem a cor pode ser outra...
Ouviu o choro da mãe. Não mais se contendo de emoção, abraçou o filho e entendeu ter chegado a hora da verdade. Voz entrecortada por longos soluços, foi dizendo:
- Filhinho, Papai Noel não existe. É o papai da gente que compra os brinquedos. Somos muito pobres. Não podemos lhe dar a bicicleta, nem nada...
- Temos só cinco mil réis.... Entenda.... Eu quero que você vá a Loja dos Presentes e compre, com este dinheiro, um caminhãozinho para seu irmão. Um bem pequenininho, senão o dinheiro não dá...
Mãe e filho se olhavam dentro dos olhos. Os dois choravam muito. Só que as lágrimas eram derramadas por motivos diferentes. A mãe, porque achava estar desmanchando os sonhos do filho, transformando-o abruptamente num adulto, quem sabe roubando dele a pureza dos seus sentimentos. Amaldiçoou a pobreza. Se tivesse dinheiro poderia comprar a bicicleta e prolongar a inocência do filho...
Alberto chorava de felicidade. Ao ouvir a mãe, considerou-se homem adulto. Aquele segredo que a mãe lhe confiara era só seu. Nenhuma outra criança da sua idade sabia daquilo.
Amanhã, imaginava, quando todos os amiguinhos estiverem desfilando os seus brinquedos, ele dentre todos será o único a saber o segredo. Não estará pedalando a tão desejada bicicleta, é verdade, mas atendendo à curiosidade de todos responderá que o brinquedo que ele ganhou de “Papai Noel” foi o melhor e mais rico de todos e que esse foi e será sempre o seu Natal mais feliz.




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