NOTÍCIAS

Carta a um herdeiro (a) sucessor (a)

por Renato Bernhoeft / Revista Cocapec:

Não importa mais qual seja o teu sexo, pois nos dias atuais os desafios já não fazem esta diferença. E principalmente quando nos referimos ao contexto das sociedades familiares num cenário de mercados competitivos e economia globalizada.

O que importa entender é que sua maior missão é perpetuar uma obra feita com muita paixão, lutas, amor, erros, acertos, carisma e visão além do seu tempo. O desafio será ampliar este legado mantendo alguns dos valores e princípios que originaram o sucesso atual.

Isto implica em compreender que ao papel do empreendedor, que realizou a obra de um começo sem nada, teu papel é diferente. A você compete a difícil missão de tornar-se um continuador, o que também envolve desafios e exigências.

É diferente daquele início baseado no esforço conjunto e muito trabalho. Agora importa conciliar interesses de diferentes vontades e desejos. Importa estar atento às novas demandas da empresa e seus mercados. E importa manter a unidade de interesses tão díspares como os da família, propriedade e gestão.

Exige-se um equilibrista determinado, humilde e desprendido. Espera-se alguém que concilie a emoção com as razões de cada um. Que tenha lógica onde ela falte aos seus sócios não escolhidos. Enfim, que mantenha a sensibilidade sem perder o rumo na direção do sucesso.

A partir de agora são mais palpites à ouvir. Muito mais contas à prestar e um maior número de interesses para agradar. E não poderá utilizar o poder patriarcal. Este é de uso exclusivo do fundador, que foi, ao mesmo tempo, patriarca, detentor da propriedade e grande gestor. Mas

esta época acabou.

E muitos não entendem isto. Por esta razão esperam continuar recebendo mesadas em vez de dividendos. Confiam na tolerância paterna quando agora exige-se competência. Julgam poder continuar tendo caprichos, quando o certo é verificar e desenvolver uma clara noção de direitos e obrigações como herdeirosócio.

Você precisará fazer seus irmãos, cunhados e primos entenderem que já não são apenas isto. Até porque este lado continuará sendo administrado pelo afeto dos almoços de domingo, batizados, casamentos ou enterros. O que importa agora é o fato novo. E o novo é a sociedade herdada. Sócios estes que não tiveram a liberdade da escolha mútua. Foram impostos pelo direito e espírito de equidade do fundador. Afinal, para ele, pelo menos na intenção, “sempre foram todos iguais.”

Eis o desafio que te aguarda. Sem nenhuma espreita ou incógnita. Esta será de fato, a nova realidade. O que importa agora é descobrir formas para “costurar” esta sociedade sem perder o afeto dos vínculos familiares. E não será uma “costura” fácil.

Exigirá muito mais do que conhecimento. Vai demandar paciência, capacidade de

ouvir e ao mesmo tempo tomar decisões no devido tempo. Dar satisfação sem sentir-se humilhado. Mas ao contrário, crescer na medida em que demonstra sua capacidade de administrar o que não é apenas seu.

Respeitar a memória do fundador. Inovar sem desprestigiar as ações do

passado. Criar uma nova equipe de profissionais sem desmerecer os “velhos de

casa”. Ganhar poder sem precisar destruir os demais.

Olhar ao seu redor e conquistar o respeito da comunidade. Granjear o

reconhecimento de fornecedores, clientes e concorrentes. Ufa! Que desafio.

E já não são mais desafios exclusivos apenas para “machos”. É para aqueles que

compreenderam que “ser” herdeiro pode também implicar em aceitar o desafio

de “estar” sucessor(a). E saber distinguir a sutil diferença entre estes dois

papéis.

Recomenda-se ainda que você procure cumplicidade para compartilhar as horas

difíceis. Elas estão nos Grupos de Estudos de Empresas Familiares que reúnem

outros, na mesma condição. Escolha, entre alguém que você respeite, um “tutor”

para troca de impressões, dúvidas e orientações. Mas saiba que, na maioria das vezes, você estará só. Mas para tanto não deve ficar isolado.

E o maior desafio de todos. Qual será?

Conseguir tudo isto sem deixar de ser marido, esposa, pai, mãe, amante. Não

abandonar as amizades e os bons momentos da vida.

Ou seja, em última análise, ser feliz no sentido pleno da palavra. E conciliar esta

felicidade com o sucesso, tanto no plano profissional como pessoal.

Estes são os nossos sinceros desejos.

Notícias Relacionadas