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China se ajusta para fase de novo modelo de crescimento econômico

por Notícias Agrícolas:

A China, a maior compradora mundial de matérias-primas, após os sinais de desaceleração de sua economia passou a adotar medidas que possam – no curto, médio e longo prazos – promover uma retomada de seu crescimento. Nas últimas semanas, depois de sequenciais desvalorizações do yuan, o Banco Central chinês anunciou uma redução nas taxas de juros e um afrouxamento nas taxas de compulsório pela segunda vez em dois meses.

Os reais impactos desse momento de “pânico generalizado” e de preocupações crescentes, bem como a dimensão que esse quadro irá tomar, divide opiniões entre especialistas.

“A bolsa (da China) está caindo porque ela já subiu muito. Entre agosto do ano passado e junho deste ano, a bolsa chinesa tinha subido 150% em dólar, nitidamente isso está fora do lugar. Assim, é natural que se veja um processo de queda. Então, a boa notícia é essa: está se desinflando uma bolha”, explicou o economista chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

Ainda de acordo com o economista, a China está testando novas formas de crescimento, sem definir metas tão elevadas, e caberá aos profissionais brasileiros se ajustar a esse cenário. “Cabe a nós brasileiros nos prepararmos para essa nova realidade da economia chinesa, que é menos commodities, que é talvez mais valor adicionado e serviços. Teremos que fazer essa mudança rápida das nossas exportações para a China”, explica.

Dessa forma, para Perfeito, essas mudanças que se mostram latentes nesse momento devem ser encaradad como oportunidade para que o Brasil entre “em um processo de geração de valor agregado e abertura de novos caminhos em seu relacionamento comercial com a China”.

Para o analista financeiro Miguel Daoud, essa reviravolta na economia mundial foi reflexo do “sentimento dos investidores no mercado futuro mundial de que poderá haver uma modificação na economia real do mundo como um todo, e eles então se antecipam”. No entanto, afirma ainda que há de se ter cautela diante de momentos como esses, que podem não ser definitivos. “É um momento que preocupa sim, mas não para ficarmos apavorados. A demanda da China em relação à soja e outros produtos vai continuar, os preços é que estão se ajustando a esse novo movimento do mercado internacional”, diz.

Além disso, não só a demanda da China, mas dos principais países importadores, por alimentos deve ser favorecida pela recente queda do petróleo. Os futuros do ativo negociados em Nova York, nesta segunda-feira, perderam o patamar dos US$ 40,00 por barril pela primeira vez em anos, e valores mais baixos poderiam significar mais recursos para os importadores destinarem à compra de alimentos.

“Só a China economiza US$ 300 bilhões com essa queda no preço do barril do petróleo, então eu diria que o mundo está se acomodando e está havendo um acerto das posições. Está havendo um ajuste pelo canal financeiro, que são os investidores posicionados no mercado futuro mundial, preocupados com duas coisas: crescimento da China e elevação de juros nos EUA, isso mexe com os preços das commodities”, explica Daoud.

Em entrevista ao site Infomoney, Roberto Dumas Damas, economista e um especialista no gigante asiático, afirma que o período é realmente de remodelação do crescimento econômico no país.

“(…) Então está claro que a China deve crescer entre 5% e 5,5% no futuro. Os investidores esperavam um estímulo fiscal como um possível corte de compulsórios depois da queda de sexta, mas ele não veio imediatamente. E isso faz sentido. A China precisa parar de investir tanto e começar a consumir. Este processo de rebalanceamento já está ocorrendo. Você precisa pegar os subsídios dados às empresas nos últimos anos e devolver à população. Parece que no mercado uns querem aproveitar e outros ainda não atinaram que o “soft landing” veio para ficar. A tendência não é de retomada das taxas de crescimento de 8%, 9%, e sim que vá para 5% ou 5,5%, o que bate em commodities e moedas da América Latina, como no Chile por causa do cobre e até em países mais desenvolvidos como a Austrália por causa do minério de ferro. Com relação às bolsas da China mainland, excetuando-­se Hong Kong, por elas serem muito fechadas ao investidor estrangeiro não há tanto impacto. O que o fato de Xangai cair mostra mesmo é que a expectativa de “soft landing” veio para ficar”.

Damas diz também que o governo chinês se planeja agora para reajustar sua economia de modo a dar mais peso ao consumo e menos ao investimento. “O consumo se aumenta elevando a renda do trabalhador, o que prejudica a lucratividade das empresas, porque é mais custo para elas. E fazendo isso o governo chinês está no caminho certo”, disse ao Infomoney, citando algumas formas que o país tem para “promover uma alta” nos salários dos trabalhadores.

Assim, o economista afirma ainda em sua entrevista que, no Brasil, o setor que continuará encontrando melhores oportunidades neste cenário será o agronegócio. “Há um provável aumento da demanda por proteína animal e também não podemos nos esquecer da infraestrutura, uma vez que o chinês vai querer melhorar o escoamento dos alimentos para lá e, provavelmente, vai trazer mais investimentos nesta parte”, disse.

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