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Estudo do Rabobank destaca maturação irregular na colheita de café
Por Rabobank, via CaféPoint:
Postado em: 04/07/22
O ano de 2022 tem presenciado um acúmulo de choques:
– Falta de insumos industriais globais, agravados por interrupções de portos chineses devido à Covid;
– Commodities agrícolas mais caras em reação aos conflitos na Ucrânia;
– Incerteza quanto ao suprimento global de petróleo e derivados. O mercado, que estava se acostumando com a ideia de que os bancos centrais de países avançados voltariam a subir juros, passaram a se preocupar com uma potencial recessão global. No Brasil, ainda que os choques inflacionários tenham se somado à falta de insumos e alimentos mais caros depois do inverno rigoroso em meio à reabertura da economia, o real brasileiro destacou-se como uma das moedas com maior apreciação entre os países emergentes. Essa deveu-se a: i) taxas de juros locais em processo de alta, ii) apetite global por commodities sul-americanas, iii) rotação entre ativos. Ao nosso ver, no entanto, este movimento fica para trás, com uma perspectiva de maiores taxas de juros globais e de menor crescimento global, aliado a um tradicional efeito do ciclo eleitoral. Esperamos que o real seja negociado em torno de 5,25 no final deste ano e de 5,20 em 2023.
Ainda que os relatórios mais recentes de inflação começam a indicar que o pior também pode ter ficado para trás, o processo de desinflação à frente ainda será lento. Após sucessivos choques que levaram a inflação doméstica a um patamar acima de 12,1% a/a em abril, o ambiente permanece desafiador com a perspectiva da sustentação de preços de commodities energéticas e agrícolas em patamares relativamente altos com um câmbio menos favorável.
Para 2022, passamos a prever inflação medida pelo IPCA em 7,3%, refletindo o esforço de Brasília em reduzir impostos de bens como combustíveis e energia elétrica. Para 2023, por enquanto prevemos inflação de 4,5% (já próximo ao topo da meta), mas as discussões de alívio fiscal (com gastos por fora teto) aumentam o prêmio de risco percebido e endossam a previsão de inflação para cima. Se estamos próximos de ver o BCB fazer um último ajuste para levar a Selic a uma taxa de 13,75%, tais discussões de alívio fiscal podem fazer com que a nossa atual projeção de relaxamento monetário (13,75% ao fim de 2022, 9,50% de 2023 e 7,50% de 2024) seja deslocado para depois. A reabertura da economia tem surpreendido positivamente e vemos o PIB crescendo a 1,2% em 2022, mas a perspectiva de juros mais altos do que esperávamos no começo do ano pesará sobre a nossa atual perspectiva de crescimento de 0,6% em 2023 e de 2,3% em 2024.
Preocupações com a demanda
Recentemente, os preços do café vêm sofrendo forte volatilidade. Mesmo assim, em junho de 2022, as cotações permaneceram elevadas. Nos últimos 12 meses, os preços de café arábica apresentaram valorização média de 48% e 56%, em Nova Iorque (ICE-NY) e no Brasil (CEPEA), respectivamente. Na oferta, os últimos dados divulgados pela FNC (Federação Nacional de Cafeteiros da Colômbia) surpreenderam o mercado, reportando uma produção de 1,02 milhão de sacas em maio 2022 (65% acima que maio 2021).
No entanto, devido aos baixos volumes colhidos no início da safra, o Rabobank projeta a safra 2021/2022 (out/set) colombiana entre 11,8 e 12,4 milhões de sacas (6% a 11% menor em relação à 2020/21). Por outro lado, o Vietnã teve uma colheita recorde em 2021/2022, estimada em 30,6 milhões de sacas. O que deve aumentar a disponibilidade de café robusta no mercado, em especial na Europa.
No Brasil, a colheita 2022/2023 começou, porém, atrasos vêm sendo reportados devido à maturação irregular, menor disponibilidade de mão de obra e altos custos de colheita. Por enquanto, o Rabobank mantém a estimativa para a safra 2022/2023 brasileira divulgada em seu último relatório trimestral. Em relação ao consumo global de café, o Rabobank projeta um crescimento para o ciclo 2021/22 de apenas 1,3% comparado à 2020/21, em 166,8 milhões de sacas. Apesar dos bons dados de consumo em regiões não produtoras no T1 2022, o conflito entre a Rússia e Ucrânia (que representam cerca de 3,5% da demanda mundial), os lockdowns na China (com a política de “covid-zero”), aumento dos estoques de café (EUA, Japão e Europa), o repasse dos altos preços de café ao consumidor diante da pressão inflacionária global, trazem preocupações à demanda. No Brasil, o Rabobank estima o consumo em 21,5 milhões de sacas para a temporada 2021/22, 0,5% maior em comparação ao ciclo passado. Porém, o aumento de 88% no preço do café no varejo nos últimos 12 meses, diante da alta nos custos de alimentos, pode limitar o consumo. Olhando à frente, os persistentes gargalos logísticos, limitações na oferta e o inverno brasileiro (risco de geada), devem continuar gerar volatilidade aos preços de café no curto prazo.
Boas margens, apesar dos altos custos
Muitas incertezas e preocupações tomaram conta do planejamento para a próxima safra de grãos, tais como disponibilidade de adubos, custo dos adubos e defensivos. Mas, será que ainda é possível atingir uma boa margem operacional com o aumento desses custos?
No caso dos fertilizantes, a maior preocupação do mercado era com relação à disponibilidade dos produtos dada a importância da Rússia no mercado mundial. Com o passar dos meses, os números de importação divulgados pelo Secex aumentaram a confiança de que a chance de escassez de produtos é cada vez menor. De janeiro a maio de 2022 o Brasil já importou cerca de 15,1 milhões de toneladas de fertilizantes, sendo este volume maior do que o observado no mesmo período do ano passado, quando havia chegado a cerca de 12,9 milhões de toneladas aos portos brasileiros.
Os volumes de 2022 representam um aumento de 17% nas importações em relação a 2021. É importante ressaltar que essa importação foi feita a um preço bastante elevado, pois o mercado estava sob a influência dos conflitos nos preços dos adubos, algo que deve diminuir daqui para a frente. Com isso em mente, a nossa análise indica que para a parcela dos fertilizantes comprados durante este primeiro semestre do ano, o produtor deve ter um aumento nos custos com fertilizantes para a safra de soja de 50 a 75% com relação aos custos da safra anterior. Para os defensivos, a projeção indica uma elevação de cerca de 25% em relação aos custos da safra 2021/2022, puxados principalmente pela alta nos custos dos herbicidas, que até o momento apresentam um aumento de mais de 40% em comparação à safra anterior. Desta forma, é esperado que os custos operacionais para a soja apresentem uma elevação de quase 50% quando comparados à safra 2021/22. Apesar dos aumentos nos custos ainda é possível que o produtor atinja um bom nível de margem operacional. Para isto é essencial o bom gerenciamento não só dos custos, mas também da venda da produção, dados os atuais níveis de preços.
Pontos de atenção
– Apesar dos problemas logísticos, desde o início do ano os estoques de café nos EUA, Japão e União Europeia aumentaram 3,6%, 9,4% e 5,3%, respectivamente. O que contrasta com os estoques certificados da ICE-NY, que atingiu 932 mil sacas (28/06/22), menor nível desde 2000.
– Segundo o índice WCI, nos últimos 12 meses os custos dos fretes conteinerizados diminuíram 9,6%. Porém, ainda existem incertezas quanto a continuidade da melhora.
– Com o atraso na colheita brasileira, o mercado observa atentamente quando esse “novo” café deve entrar no mercado. Nos próximos meses, o café da safra 2022/23 pode pressionar os preços.
O Rabobank e´ um banco de atuação global especializado em soluções financeiras para o agronegócio e tem profundo conhecimento em toda a cadeia de alimentos – do campo a’ mesa do consumidor. Por meio de sua área exclusiva de pesquisas, o Raboresearch, o banco desenvolve conteúdo sobre tendências e previsões sobre o agronegócio no Brasil e no mundo.
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