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Etiópia visa mudanças dentro do setor de cafés especiais

por CaféPoint:

A Etiópia, quinto maior produtor de café do mundo, tem transformado a maneira como comercializa a commodity em uma tentativa de aumentar os ganhos de exportação e reprimir um próspero mercado negro doméstico.

Especialistas dizem que as reformas que se concentram em melhorar a rastreabilidade dos grãos e estimular uma produção de maior qualidade, poderiam transformar o mercado global de café especial devido à esperada oferta maior de um dos principais produtores mundiais.

Arkebe Oqubay, ministro do governo que supervisiona a reforma, disse que espera que as mudanças, que têm como modelo a experiência da Colômbia, levarão as exportações anuais de café da Etiópia a aumentar com relação ao atual valor de US$ 1 bilhão. “Podemos facilmente ganhar cinco vezes o que estamos ganhando se fizermos da maneira certa”, disse ele ao Financial Times. “Nosso objetivo é melhorar a rastreabilidade e incentivar os produtores a aumentar a produtividade e expandir as fazendas de café”.

Pelos antigos arranjos que foram introduzidos em 2008, a grande maioria do café era transportado para a Bolsa de Commodities da Etiópia, misturado e, em seguida, leiloado. Isto resultou na perda de grande parte do seu valor, pois sua origem não podia ser rastreada, um requisito fundamental na indústria de cafés especiais.

Com pouco incentivo para produzir grãos de alta qualidade, muitos dos estimados 5 milhões de cafeicultores etíopes prestaram pouca atenção à melhoria do padrão de sua safra. Isso também levou a preços no mercado interno em expansão que excedem os preços de exportação. Com isso, estimula-se o mercado interno.

Agora, todo o café será mantido separado até que seja leiloado, permitindo a rastreabilidade total e as companhias estrangeiras poderão plantar o café e exportá-lo diretamente. Todas as atividades governamentais relacionadas ao café também serão colocadas sob um mesmo teto para reduzir a burocracia.

Menno Simons, chefe executivo da Trabocca, fornecedora holandesa de cafés verde especial e certificado, disse: “as reformas provavelmente terão um impacto real, pois agora deve ser mais fácil para nós identificar os grandes cafés e rastreá-los. A diversidade do café da Etiópia é única, não há nenhum outro país no mundo que tem isso. Em termos de qualidade, é número um, com o Quênia e a Colômbia sendo o número dois”.

Os cafés especiais do Quênia costumam ser vendidos por mais do que o dobro que as variedades etíopes, pois as relações diretas entre os produtores, os torrefadores e os exportadores oferecem rastreabilidade dos grãos de café.

De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), a Etiópia produziu cerca de 400 mil toneladas de café no ano passado, dos quais cerca de 50% foram exportados. No entanto, o Arkebe disse que por causa da atividade do mercado negro e uma fraca burocracia, a produção era possivelmente 50% maior do que isso, com os grãos adicionais sendo vendidos localmente: “queremos erradicar os pontos fracos do sistema”, disse ele.

Abdullah Bagersh, gerente geral do Bagersh Coffee, um dos produtores, torrefadores e distribuidores mais antigos do país, disse que a reforma deve enfraquecer o mercado negro: “os produtores têm agora um incentivo para produzir café de alta qualidade, de modo que cada vez mais se moverão para cima da pirâmide [de qualidade], o que tornará mais difícil para o mercado local tomar esse café”.

Abdullah disse também que não está claro quando o efeito das reformas será sentido, pois é difícil fazer grandes mudanças no meio da estação. “Minha posição alternativa é que tudo estará no lugar no começo da estação seguinte, em outubro. Mas algumas mudanças serão implementadas mais cedo”, finalizou.

As informações são do The Financial Times. / Tradução Juliana Santin

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