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Exportar café em cápsula é exemplo para agregar valor e manter lucros

por Folha de São Paulo:

O ciclo de alta das commodities chegou ao fim. Para manter a rentabilidade, o setor será obrigado a agregar mais valor à produção. O jargão econômico, que já virou clichê quando o assunto é exportação, tornou-se prioridade em algumas lavouras e indústrias do país.

O café é um dos casos mais emblemáticos nesse tema. O Brasil é o maior produtor e exportador de café verde (cru, em grãos) do mundo, mas vende pouco ao exterior o produto torrado e moído, de maior valor, que representa cerca de 10% dos embarques.

Ao mesmo tempo, o país quadruplicou as importações nos últimos cinco anos, devido às compras de café em cápsula. No ano passado, essas importações somaram US$ 60 milhões. Só neste primeiro semestre, foram US$ 36 milhões, alta de 57%.

O mesmo café que sai do Brasil em grãos com destino à Europa muitas vezes retorna ao país em cápsulas, com um valor muito superior –apropriado inteiramente pelas indústrias estrangeiras.

Algumas iniciativas, no entanto, indicam que o país pode virar o jogo. Hoje, mais de 60 empresas vendem cápsulas de café produzidas no Brasil –nesses casos, as indústrias terceirizam o encapsulamento para uma empresa especializada, europeia. Há um ano, “eram cinco ou seis”, afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).

 

A grande mudança deve acontecer em 2016, quando três grandes fábricas de cápsulas estarão em operação.

Em Montes Claros (MG), Nestlé e 3 Corações constroem unidades onde serão produzidas monodoses de café. A terceira unidade será no Espírito Santo, da Wine.com.br, empresa de comércio eletrônico de bebidas que entrou no setor neste ano, com a aquisição da suíça Mocoffee.

A expectativa é que as cápsulas não atendam apenas o mercado interno, mas sejam também exportadas.

“Com essas três fábricas, vamos iniciar um ciclo novo mais consistente de exportação de café torrado e moído”, acredita Herszkowicz.

Na exportação de café verde, também é visível o esforço para elevar a rentabilidade. No primeiro semestre, os cafés diferenciados representaram 25% do volume total exportado pelo país.

Fazem parte desse grupo grãos com qualidade superior, certificação de boas práticas de sustentabilidade e preço de venda no mínimo 25% superior à média.

AO GOSTO DO FREGUÊS

Os exportadores de frango são pioneiros nesse negócio. Com cortes ao gosto do freguês, o Brasil conquistou mercados mais sofisticados, como o Japão, que aprecia o “kakugiri” (empanado feito de forma diferenciada para os japoneses) e o “middle joint”, feito de metade da asa.

Os brasileiros também ganharam espaço nos países árabes, que só compram a carne se o frango tiver sido abatido de acordo com os princípios islâmicos. Mais de 30% dos embarques de carne de frango do Brasil, maior exportador mundial, vão para a Arábia Saudita e o Japão.

Na carne suína, cortes especiais até então exclusivos da bovina –como picanha e filé mignon– ajudaram a reduzir a rejeição a essa proteína e elevaram o consumo per capita, hoje em torno de 14 quilos por ano.

Já nos bovinos, chegou a hora das “butiques”. Mais preocupado com a saúde e com a qualidade dos alimentos, o consumidor começa a trocar a quantidade por porções menores e de valor superior. Frigoríficos e varejo se aproveitam do momento com lojas especializadas e atendimento personalizado.

Alguns investem em marca, o que há pouco tempo parecia inviável para um produto “in natura”. São os casos de Friboi, da JBS, e de Bassi, que pertence à Marfrig.

Mas ainda há um longo caminho a percorrer. “O Brasil é líder na exportação de muitos produtos agrícolas, mas é o quarto maior exportador de alimentos. Precisamos agregar mais valor”, afirma Francisco Turra, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

“Espanha e Itália, por exemplo, produzem menos, mas exportam produtos de altíssimo valor agregado”, afirma Turra, lembrando dos famosos presuntos pata negra e de Parma.

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