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Instituto Agronômico de Campinas desenvolve cafés mais resistentes com ganhos de até 70% na produção

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Instituto Agronômico de Campinas desenvolve cafés mais resistentes com ganhos de até 70% na produção
por Patrícia Teixeira, G1 Campinas e Região
São três novas cultivares que resistem à ferrugem, já estão em produção e entram no lugar de tipos cultivados em 90% dos cafezais brasileiros. Melhoramento genético desses grãos é resultado de ao menos 35 anos de pesquisa.
Cultivar IAC Catuaí SH3 desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas é resistente à ferrugem Cultivar IAC Catuaí SH3 desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas é resistente à ferrugem
Cultivar IAC Catuaí SH3 desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas é resistente à ferrugem
Pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) desenvolveram três cultivares de café mais resistentes com ganhos na produtividade que variam de 35% a 70%. A novidade substitui os cafés mais tradicionais plantados em aproximadamente 90% dos cafezais do país, e já está sendo cultivada em Minas Gerais e São Paulo.
As cultivares de café arábica foram obtidas por meio de melhoramento genético. IAC Catuaí SH3, IAC Obatã 4739 e IAC 125 RN têm resistência ou tolerância à ferrugem-da-folha, principal doença que afeta as plantações de café.
"Em anos severos, pode chegar até 50% de redução na produção do café. [...] No [tipo] resistente não aparece nada. O tolerante tem a lesão da ferrugem, mas ela não desenvolve", explica Júlio César Mistro, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Segundo Mistro, que faz parte da Equipe do Centro de Café da área de melhoramento genético do Instituto, o custo para controlar a ferrugem para os produtores é em torno de 8% de uma saca de café.
"O produtor economiza 8% do valor da saca de café por hectare, [...] Hoje vale R$ 430, e próximo dos R$ 30 [são gastos] com uso de defensivos agrícolas", diz.
A cultivar Obatã 4739, desenvolvida pelo IAC, em Campinas, apresenta maturação média para tardia (Foto: Júlio César Mistro/IAC) A cultivar Obatã 4739, desenvolvida pelo IAC, em Campinas, apresenta maturação média para tardia
A alta resistência também viabiliza o plantio orgânico, que viabiliza ganhos ainda maiores para os produtores, já que, segundo o pesquisador, o valor da saca triplica.
Apesar da redução no custo, Mistro afirma que isso não significa um barateamento do produto para o consumidor final. "O preço do café é em função da oferta e demanda, e não em função do custo de produção".
Pesquisa longa
A pesquisa é resultado de, pelo menos, 35 anos de estudos - tempo necessário para se desenvolver novas cultivares de café, segundo o Instituto.
"Pra você atingir a uniformidade genética no campo, plantar e ele [grão] não variar, ser uniforme, você leva sete gerações. [...] [Foi] o cruzamento entre duas plantas, uma resistente à ferrugem e outra não, e desse cruzamento foram feitas seleções durante 30 a 40 anos até chegar no resultado final”, explica Mistro.
As cultivares já estão em produção no cerrado mineiro e na região leste de São Paulo.
Cultivar de café IAC 125 RN, desenvolvida por melhoramento genético no IAC, em Campinas, possui resistência à praga que afeta raízes. (Foto: Júlio César Mistro/IAC) Cultivar de café IAC 125 RN, desenvolvida por melhoramento genético no IAC, em Campinas, possui resistência à praga que afeta raízes. (Foto: Júlio César Mistro/IAC)
Cultivar de café IAC 125 RN, desenvolvida por melhoramento genético no IAC, em Campinas, possui resistência à praga que afeta raízes. (Foto: Júlio César Mistro/IAC)
Outros benefícios
Além da resistência à doença, duas das novas cultivares oferecem mais benefícios à produção. A IAC Catuaí SH3, por exemplo, é menos dependente de irrigação, ou seja, se adapta melhor a regiões mais secas.
Já a cultivar IAC 125 RN é tolerante à nematóide Meloydone exigua, uma praga que ocorre na raiz e causa severos prejuízos à plantação, segundo Mistro.
"O retorno é positivo dos produtores, com bastante aspecto positivo, cultivares bem vigorosas, bem produtivas, resistentes à ferrugem. No caso do IAC 125 RN, a maturação é mais uniforme, o fruto é grande", explica o pesquisador do IAC.
A IAC Obatã 4739, tolerante à ferrugem, tem maturação média para tardia.
As três também têm porte baixo, não passam de 2,20 m de altura, o que facilita a colheita, manual ou mecânica.
Mistro disse, ainda, que as novas cultivares precisam de manejo diferente no plantio, pois são mais exigentes com relação à adubação e devem ser plantadas com menor espaçamento entre elas. A poda tem que ser feita mais cedo do que nas cultivares tradicionais, usadas até então, Catuaí e Mundo Novo.
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