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Picão-Preto: saiba mais sobre a erva persistente nas lavouras de café

por José Braz Matiello:

Olha ela aí, presa na borda das calças, espetando as pernas da gente. É a semente da erva picão-preto, que gruda no tecido, denunciando a presença dessa planta daninha no meio do cafezal. Ali, ela nasce e vegeta com prejuízo duplo – concorre com os cafeeiros, em água e nutrientes, e, ainda, atrapalha nossa caminhada na lavoura.

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As pesquisas têm demonstrado que a erva picão-preto possui alto potencial competitivo, sendo muito eficiente no aproveitamento de água no solo, especialmente nos períodos de déficit hídrico. Ela apresenta, no mesmo sentido, boa capacidade de acúmulo de nitrogênio e fósforo, nutrientes importantes para o cafeeiro.

Em análise da parte aérea de picão foram verificados teores de nutrientes assim: N= 3,9%, Ca = 1,1%, P=0,58%, Mg =0,54% e K=3,0%, portanto níveis bem superiores aos das folhas do cafeeiro, dando ideia da sua boa capacidade de competição por nutrientes, do solo ou da adubação usada no cafezal.

A planta de picão, cujo nome cientifico é Bidens pilosa, é herbácea, de porte erecto, podendo atingir até 1,5 m de altura. Cada planta pode produzir até 3000 sementes, seu crescimento é rápido, podendo dar até mais de 3 gerações ao ano, assim é encontrada praticamente o ano todo no cafezal. Pode estar ocorrendo, com plantas de aspecto semelhante, também a espécie Bidens subalternus.

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Como características de sobrevivência, por se tratar de erva daninha, sobressaem, nas plantas de picão sua rusticidade e agressividade competitiva, pra isso sendo importantes seu ciclo curto, a grande produção de sementes e sua dormência no solo por longo período e sua boa capacidade de disseminação, formando um grande banco de sementes na área da lavoura. Ela, também, possui substâncias alelopáticas, permitindo reduzir a atividade de outras plantas ao seu redor. Além disso, pode hospedar nematoides, pulgões, fungos e vírus.

Em seus aspectos positivos, as plantas de picão servem à alimentação, pelo seu elevado teor de proteína (21% = N x 5,75) e sua atividade como fitoterápico, sendo prevista sua liberação como planta medicinal pelo Ministério da Saúde. Nesse particular, se destacam suas propriedades como anti-hiperglicemica, anti-úlceras, anti-inflamatória, anti-térmica, anti-cancerigena, antioxidante e anti-microbiana.

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No controle do picão-preto no cafezal podem ser usados diferentes sistemas manual, mecânico e químico. As capinas ou roçadas devem manejar as ervas visando sua eliminação antes da produção das sementes, sendo o uso de trincha mais efetivo do que a roçadeira, pois tende a matar a planta, ao invés de apenas poda-la.

A morte, tanto por corte das plantas, como por herbicidas mais seletivos ao cafeeiro, é alcançada, de forma mais eficiente, com as ervas mais jovens. No uso de herbicidas, no geral, nos de pós-emergência, pode-se empregar tanto o glifosato como os produtos específicos para folhas largas. Para diminuir o banco de sementes indica-se, em condições de altas populações da erva, usar, também, herbicida de pré-emergência.

Deve-se passar a prestar atenção ao aspecto de resistência, pois em outros cultivos, anuais, já se verificou resistência a herbicidas inibidores de síntese de Acetolactato (ALS), sendo que representante deste grupo, o Clorimuron, vem sendo usado, mais recentemente, em cafezais.

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