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Prof. Molion diz que há probabilidade alta de ocorrer geada forte neste inverno

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Prof. Molion diz que há probabilidade alta de ocorrer geada forte neste inverno
por Prof. Molion:
Acompanhei com atenção o vídeo AGROTALK no AGRISHOW, que me veio pelo Peabirus, cujo apresentador não sei o nome, mas ele está ligado a Climatempo.
Achei temerária a previsão que ele fez para o inverno. Fiquei preocupado com a forma categórica que ele afirma que "não vai haver geada” e que o inverno vai ser até mais quente que a média". As afirmações dele são altamente questionáveis. Primeiro, porque ele utiliza a previsão probabilística de El Niño do Climate Prediction Center (CPC/NOAA) na qual o CPC/NOAA "aposta" que, a partir do segundo semestre, particularmente em dezembro, exista quase 50% de chance de se formar um novo evento El Niño. Mas,....pode não se formar! Em março do ano passado, o CPC afirmou que haveria um El Niño em 2017, eu fui contra e disse que existia maior chance de se ter um La NIña e acertei! O CPC/NOAA errou! Segundo, que as previsões para os próximos meses são baseadas em Modelos ( de simulação) de Clima Global (MCG) que, como é sabido, apresentam sérias limitações, pois não incluem adequadamente os processo físicos que controlam o clima global. Em particular, esses MCG não conseguem reproduzir o clima atual e não conseguem prever eventos El Niño. Ninguém no mundo consegue saber o tempo (meteorológico) que vai ocorrer com tanta antecedência! Só se tiver "bola de cristal".
Minha intuição vai contra as previsões por ele apresentadas. Eu não uso MCG. Eu uso um método chamado "previsão por similaridade", ou seja, analiso o cenário do clima global deste ano e escolho um ano no passado, do qual já temos os dados observados, que tenha as condições globais semelhantes às deste ano. No caso, o ano similar a 2018 é o ano 2000. Em 1997/1998, tivemos um El Niño forte que foi seguido de dois anos de La Niña, 1999/2000. Em 2015/2016, tivemos um El Niño forte, que foi seguido de um La Niña em 2017 e, na minha concepção, vai permanecer um La Niña fraco no segundo semestre de 2018 e não um El Niño como profetisa o CPC/NOAA. As águas do Pacífico Equatorial ainda continuam frias e, para a atmosfera mudar, são necessário cerca de 3 meses. Portanto, o efeito das águas frias, mesmo que o Pacífico vire para neutralidade (temperaturas das águas entre +/-0,5°C) nesse próximo mês, ainda manterá frias as camadas superiores da atmosfera durante o nosso inverno e há grande chance de haver pelo menos UMA incursão de uma massa de ar polar forte que venha a causar uma geada severa. O que ocorreu em 2000, ano similar a 2018??? Em 17 e 18 de julho, a incursão de uma massa polar forte provocou temperaturas mínimas de 0°C em Uberaba e no Triângulo Mineiro. Note que, quando o termômetro está a 0°C no abrigo meteorológico, que fica a 1,5 m acima da superfície, a temperatura na superfície já está 4 a 5°C negativos! Ainda em Minas, Machado registrou -0,6ºC, Lavras 2,0ºC e Janaúba, 7,8°C que prejudica o cultivo da banana. Convém lembrar que temperaturas baixas também são nocivas ao gado de corte que fica no pasto aberto na noite de geada e pode morrer de hipotermia. O oeste de S. Paulo e norte do Paraná também sofreram com temperaturas mínimas muito baixas. Concordo que o inverno, de maneira geral, possa até ser mais ameno, "na média". Mas, o que prejudica os cultivos não é a "média do inverno" e sim UM simples evento de incursão de massa de ar polar intensa que provoca geada forte e mata a planta! Clima não é físico, é média, é estatística. Fazemos a adição das temperaturas mínimas dos 90 dias do inverno e dividimos por 90 e temos "uma temperatura mínima média". O tempo (meteorológico) daquele dia é físico, pois basta 1 dia, ou 2, de temperaturas abaixo de 0°C dentro desses 90 dias para prejudicar o cultivo! Em resumo, o cafeicultor no Sudeste/Sul precisa ter cautela e se preparar para uma probabilidade alta de se ter pelo menos uma forte geada no inverno de 2018. Não há métodos que venham a proteger os cultivos, total ou parcialmente, de uma geada forte. A solução é não vender o café que está em estoque e, como cantou o brilhante zoólogo Paulo Vanzolini, "dar a volta por cima" no ano seguinte. Lamento que minha intuição me faça trazer uma notícia preocupante.
Abraços,
Prof. Molion

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