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Racionalizar mão de obra é a melhor opção para colheita do café, diz pesquisador

por Notícias Agrícolas:

A colheita de café no Brasil tem gerado incertezas no mercado desde que os primeiros casos do Covid-19 começaram a ser registrados no Brasil. Na última quinta-feira (16), visando manter as questões de segurança, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) de Minas Gerais divulgou uma recomendação para que os cafeicultores começassem a avaliar a possibilidade de fazer a colheita de maneira tardia neste ano. Minas Gerais corresponde ao maior polo de produção de café do Brasil.

De acordo com a indicação, o atraso no plantio deveria ser de entre 10 e 20 dias. Segundo Niwton Castro Moraes, Técnico Especial da Seapa para o Café, explica que a iniciativa governo mineiro não se trata de uma obrigatoriedade, mas sim um convite para o produtor fazer uma reflexão sobre o momento que o país passa. “Isso não é uma condição, mas sim um alternativa para o produtor. Cada um deve avaliar de forma particular e cada um sabe da sua particularidade”, afirma.

A iniciativa, segundo Niwton partiu do princípio de que a curva de casos no país tende a cair nos próximos meses. “É comum alguns produtores anteciparem para abril, mas a plena maturação do grão não acontece em abril, por isso acreditamos que não gerará impactos”, afirmou em entrevista ao Notícias Agrícolas. Destacou ainda que no caso das regiões onde a colheita é feita em sua maioria de forma mecanizada, a Pasta não vê necessidade de alteração do cronograma.

A preocupação, no entanto, se dá com a quebra de qualidade que o café pode ter caso a colheita seja realmente feita nestes moldes. José Braz Matiello – Engenheiro Agrônomo Fundação Procafé explica que a maturação tardia do grão pode gerar esses impactos negativos na qualidade do café, o que posteriormente pode também gerar efeitos negativos aos cofres dos produtores, sobretudo os de cafés especiais. Segundo o analista, diante do cenário a melhor alternativa para o café seria racionalizar o uso da mão da obra.

“Quando a gente atrasa a colheita, a gente complica a mão de obra. A medida que você estende a colheita, dentro do prazo normal, você racionaliza a mão de obra. Atrasar ou adiantar nunca é bom”, comenta Matiello. Segundo o especialista, as regiões de clima mais seco como no Triângulo Mineiro não enfrentariam tantos problemas, mas já na Zona da Mata o atraso significaria colher café com menos qualidade.

Quanto a perda de produtividade, Matiello destaca que ainda é muito cedo para falar e que a situação precisará ser analisada dia após dia. Ele destaca ainda que o produtor também não deve antecipar demais a colheita, porque a ação também pode resultar em perda de peso, mais um indicativo de perda de qualidade. “Ele tem que colher o café na época que ele já está habituado, mas se ele pode puder começar antes e terminar depois também é positivo”, afirma.

Na racionalização, segundo o analista, o produtor deve começar pelos talhões que amadurecem primeiro e seguir conforme a maduração da lavoura. “O período maior economiza também na instalação de secagem, você pode secar por um período maior e pode usar melhor, secar e preparar melhor o café na pós colheita”, afirma o analista, destacando  a importância do produtor usar no plantio variedades precoce, média e tardia.

Na região do Cerrado do Mineiro, o produtor de café Juliano Tabaral, explica que apesar da colheita em Patrocínio/MG ser feita 100% mecanizada os produtores não pretendem atrasar a colheita, que está prevista para a segunda quinzena de maio. “Nós estamos tomando todos os cuidados necessários e não há perspectivas

No quesito atraso de colheita, a situação ainda mais é complicada para os cafés especiais. Fernando Barbosa, produtor de São Pedro da União/MG destaca que o café não pode perder o tempo exato, se não a quebra para esse os cafés de qualidade será ainda mais prejudicial. No início desta semana, Fernando destacou que até o momento o trabalho de mão de obra ainda não foi prejudicado e alguns apanhadores de café já chegaram para trabalhar. Nesta sexta-feira (17) ele confirmou que o cronograma em suas lavouras devem ser mantidos.

Transporte

Sobre os deslocamentos de colhedores entre municípios mineiros, o comitê esclarece que o produtor deve verificar, antecipadamente, se há restrição de trânsito intermunicipal. Já houve deliberação pela flexibilização do trânsito interestadual, mas alguns municípios ainda mantêm restrições para a saída e entrada de veículos de transporte de passageiros, incluindo trabalhadores rurais.

Em relação à contratação de trabalhadores, os agricultores não devem recrutar pessoas pertencentes aos grupos de risco até que as autoridades sanitárias suspendam as restrições impostas para o trabalho delas em ambiente coletivo. No caso dos indivíduos com sintomas aparentes da Covid-19, a orientação é providenciar o imediato isolamento e a comunicação aos profissionais de saúde locais.

Visão internacional

Nesta sexta-feira (17) a Bloomberg deu destaque às incertezas de colheita na América do Sul. A publicação destaca que a A produção de café já estava prevista para ficar abaixo da demanda este ano, com a lacuna sendo preenchida pelos estoques remanescentes de colheitas anteriores.

“Enquanto isso, os estoques foram esgotados em um momento em que o vírus desencadeou uma onda de compras de pânico em supermercados. Os preços do arábica subiram como resultado, com os futuros em Nova York subindo cerca de 16% no mês passado”, afirma.  Os estoques americanos de grãos não torrados caíram pelo sexto mês consecutivo em março para o menor nível desde abril de 2016, mostram dados da Green Coffee.

Afirma ainda que no Brasil parte da colheita deve acontecer sem maiores problemas já que grande parte é feita de maneira mecanizada, mas destaca que na Colômbia, o segundo maior produtor de arábica, ainda trabalha com colheita manual em grande parte da safra.

“Fornecedores e intermediários na Colômbia tiveram problemas para acessar regiões produtoras sob restrições de bloqueio. Eles tiveram problemas para coletar o suprimento de café, enquanto o horário bancário reduzido também torna as operações de pagamento mais restritas, segundo a trader Sucafina SA, com sede em Genebra”, destaca a Bloomberg.

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