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Revista Cocapec: A Doença de Chagas no homem e a Tripanossomíase em vacas

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Revista Cocapec: A Doença de Chagas no homem e a Tripanossomíase em vacas
por Paulo Correia/ Médico Veterinário Uniagro/Cocapec – Mestre em medicina veterinária e professor universitário via Revista Cocapec:
ATENÇÃO: A versão impressa apresentou alguns erros, como a junção de duas palavras, causadas por uma incompatibilidade de versões de programas de computador. Este fato é de única e exclusiva responsabilidade da equipe de edição e conteúdo da Revista Cocapec, isentando o autor do artigo de qualquer responsabilidade pelo fato. Pedimos desculpas e agradecemos a compreensão.
Tripanossomíase é qualquer doença causada pelos protozoários do gênero Trypanosoma. É uma doença parasitária que afeta o sistema cardiovascular no homem. O protozoário flagelado Trypanosoma cruzi é o agente causador da doença. Ele foi descoberto por Carlos Chagas em 1909 e o nome foi dado em homenagem ao epidemiologista brasileiro Oswaldo Cruz, que foi o descobridor da doença.
A DOENÇA DE CHAGAS é uma endemia muito comum em países subdesenvolvidos com estimativas de 12 milhões de infectados e cerca de 50 mil mortes a cada ano nas Américas.
Transmissão
É uma doença de contágio indireto, pois necessita de um vetor, o triatomíneo, inseto hematófago (que alimenta-se de sangue) – o Barbeiro ou Chupão. Qualquer mamífero pode hospedar o parasito, enquanto aves e répteis são refratários à infecção. Existem mais de 300 espécies deste inseto que podem transmitir a doença. Dentre elas destacamos três mais comuns em nossa região: Triatoma infestans, Rhodnius prolixus e Panstrongylus megistus. Esse inseto possui hábitos noturnos, e a noite sai do seu esconderijo para procurar alimento. É nessa hora que ocorre a transmissão da doença. Após chupar o sangue da vítima, o inseto contaminado defeca na pele, eliminando os protozoários. Quando o indivíduo coça o local ou se houver alguma ferida, os protozoários penetram na pele e caem na corrente sanguínea. Pode ocorrer também a transmissão através do sangue contaminado e durante a gravidez, onde a mãe passa o protozoário para o filho.
Outra forma, não mencionada antigamente, de transmissão da doença é pela ingestão de alimentos contaminados com o seu vetor ou seus dejetos triturados. Neste século XXI, já ouvimos falar sobre a contaminação oral de pessoas pela ingestão de caldo de cana e também pelo consumo do açaí. Tanto a cana de açúcar como o açaí podem ficar contaminados quando um barbeiro, ou suas fezes, se misturam na moagem da cana ou à polpa durante o processamento, ou na fruta in natura. Logicamente a contaminação ocorre quando há falta de higiene e sem passar pelo processo de industrialização que conserva o produto para a venda nas regiões do Brasil e no exterior. No caso da polpa industrializada o produto é submetido a lavagens e processo de pasteurização, o que elimina qualquer possibilidade de sobrevivência do tripanossoma.
Sintomas
A fase inicial da doença, normalmente não existe sintomas aparentes. Quando presentes, os sintomas podem ser: febre, gânglios linfáticos aumentados de tamanho, dor de cabeça e inchaço no local da picada. Após 8 a 12 semanas, os indivíduos entram na fase crônica da doença e em 60-70% nunca desenvolvem outros sintomas. Os 30-40% restantes apresentam sintomas adicionais 20 a 40 anos após a infecção inicial. Os sintomas da fase crônica da doença só se manifestarão de 20 a 40 anos após a infecção original. Sendo esses sintomas o alargamento dos ventrículos do coração, levando a uma insuficiência cardíaca. A dilatação do esôfago ou alargamento do cólon também pode ocorrer em menor escala. No Brasil, em adultos de 30 a 60 anos, as complicações no coração dos portadores da Doença de Chagas, é uma causa de morte frequente e também está relacionada ao aumento do número de implantes de marca passo e transplante de coração.
Diagnóstico
O diagnóstico é realizado com a visualização do parasita no sangue. Pode ser utilizada também a detecção de anticorpos no soro (imunofluorescência indireta, hemaglutinação indireta e teste de Elisa que detecta enzimas). Existem também testes moleculares que podem ser utilizados para a confirmação da doença em qualquer fase.
Tratamento
O tratamento é realizado com o uso do benzonidazol. Este medicamento é distribuído pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em casos agudos e crônicos. Contudo, ainda não há garantias na eficácia total do tratamento. Para retardar a evolução da doença é muito importante uma boa alimentação e um acompanhamento médico constante.
Prevenção
A prevenção é feita tomando-se medidas para evitar que o inseto penetre nas casas e forme uma colônia. As frestas de telhados e paredes devem ser eliminadas. Pode-se também usar mosquiteiros e telas para evitar que o inseto entre voando. No caso de utilização de alimentos in natura deve-se observar se os mesmos não estão contaminados.
TRIPANOSSOMÍASE em BOVINOS
É uma doença provocada pelo protozoário do gênero Trypanossoma, que parasitam várias espécies de mamíferos como o humano, animais domésticos e silvestres. Em bovinos causa considerável queda na produção de leite, perda de peso e até a morte do animal.
Esta doença originou na África, entrou nas Américas no século XIX e foi registrada pela primeira vez no Brasil, no Pará, por Shaw e Lainson em 1972. Em Minas Gerais o primeiro caso relatado de Trypanossoma vivax foi em 2007 no município de Igarapé, em uma vaca (Carvalho et al, 2008). A transmissão da doença pode ser através da picada da mosca do estábulo (Stomoxys calcitrans), que pica o animal infectado e depois pica um animal sadio, transmitindo o parasito pelo sangue. Uma causa, hoje bastante utilizada em nossos estábulos, é a aplicação de ocitocina antes da ordenha com o uso coletivo de uma agulha contaminada, podendo também transmitir o tripanossomo de uma vaca contaminada para outra vaca sadia.
Os sintomas do animal são de um quadro severo de anemia, grande queda na produção de leite, perda de peso, febre, alterações reprodutivas como diminuição da fertilidade, anestro, morte fetal, aborto, perda da libido no macho, e, eventualmente, morte.
Para tratamento usa-se medicamento à base de cloreto de isometamidium (Trypamidium). Este medicamento não estava liberado para uso no mercado brasileiro, porém, nos dias atuais, um laboratório (CEVA), está licenciado para comercializar o Vivedium® contra a tripanossomose bovina no país. A Cocapec revende este produto.
O recomendado é o controle evitando a disseminação do parasito. Usar seringas e agulhas descartáveis em todos os procedimentos (vacinações, aplicações de hormônios e medicamentos), manejo de esterqueiras, não acumulando resíduos orgânicos, evitar restos de alimentos como sobras de cana, silagens e forragens e não deixar a palha de café estocada próximo aos currais e pastagens, para controlar a ovoposição da mosca do estábulo.
Portanto, uma atenção redobrada de todos os produtores é importante para evitar a proliferação da mosca do estábulo, que sempre acarreta grandes prejuízos com a rápida quebra na produção de leite e morte de bovinos.


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