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Revista Cocapec: LEBRÃO  –  O super-coelho (Artigo)

por Revista Cocapec 116:

Paulo Correia / Médico Veterinário Uniagro/Cocapec. Mestre em medicina veterinária e professor universitário

Lepus europaeus, como é escrito o nome científico desta lebre que conhecemos como lebrão ou coelho grande.  É nativa da Europa, foi trazida para Argentina e Chile visando à caça esportiva, teria se proliferado pelos países vizinhos e chegado ao Brasil nos anos 1950, por meio da fronteira com o Uruguai.  Sua primeira pegada no país, publicada em literatura, foi em Santa Vitória do Palmar (RS), no ano de 1982. Mais de três décadas depois, ela estaria presente em 135 localidades brasileiras, de acordo com o artigo coassinado por Clarissa Rosa, ecóloga. De dois anos para cá, porém, os agricultores têm sentido uma disparada na frequência do animal.

O lebrão recebe esse nome aumentativo pelo porte “atlético”. Sentado com as patas encolhidas, e desconsiderando as orelhas de pontas negras, ostenta cerca de 25 centímetros de altura. Pesa de dois a cinco quilos. E, em pleno salto, chega a uns 70 centímetros de comprimento, o que faz lembrar um gato. Tem uma plasticidade ecológica alta, isto é, adapta-se a diferentes ambientes, embora prefira campos abertos.

São perfeitos também para as suas já elevadas taxas de reprodução. “Mamíferos tendem a ajustar a reprodução em períodos de maior oferta de alimento”, explica Rosa. A lebre europeia apresenta de quatro a sete gestações anuais, concebendo até quatro filhotes por ninhada. Ou seja, uma lebre pode ter 28 crias por ano – sendo que as fêmeas dessa ninhada, aos 5 meses de idade, já estão maduras sexualmente para se reproduzirem

Espécie foi trazida para Argentina e Chile visando à caça esportiva e teria se proliferado pelo países vizinhos até chegar ao Brasil | Foto: José Patrício

A espécie não se deixa pegar com facilidade. De hábito predominantemente noturno, é bastante rápida e arisca, dificultando a ação do predador. Enquanto na Europa linces, lobos e aves de rapina teriam saído ao seu encalço, na América do Sul caçadores naturais não a incorporaram à dieta. “Quando a lebre começou a invadir o Rio Grande do Sul, criou-se a esperança de que poderia ser uma presa para os poucos predadores que ainda existiam, já que as presas nativas estavam em declínio populacional”, diz  Clarissa Rosa.

Mas estudos de dez, 15 anos mostraram que os carnívoros dessa área não se alimentam da lebre europeia, mesmo em áreas infestadas. A dedução é que ela tem uma capacidade de fuga muito maior que as espécies nativas. Que o digam os produtores. Cães da roça, por exemplo, normalmente não dão conta de alcançá-la.

Em várias regiões do Estado de São Paulo tem relatos da infestação. Em Capela do Alto o ataque foi em plantações de melancias. A lebre raspava a melancia novinha que crescia deformada.  Em Indaiatuba um produtor de maracujá teve sua colheita perdida porque o bicho roía o pé e a planta morria. Em Torrinha a devastação foi nos pés de feijão carioquinha. Monte Azul, outro município que o lebrão já chegou, o problema foi em mudas de laranjas recém-plantadas. Também em Minas Gerais existem referências. Em Senador Amaral, no sul de Minas, o ataque ocorreu em plantações de brócolis. O município é que mais produz brócolis no Brasil.

Para terminar, afirmo que em caminhadas nos finais de semana na lavoura de café de minha propriedade em Ibiraci/MG, já me deparei com o lebrão por três oportunidades, mas o bicho é tão ligeiro que não dá tempo de sacar o celular e registrar sua presença em foto. Também meu vizinho do lado, plantou em sua fazenda feijão entre as ruas de um talhão de café novo, ano passado. Segundo ele e seus empregados, os pés de feijão estavam viçosos. De uma noite para o outro dia sumiu toda a plantação, ficando só alguns talos das plantas e as pegadas do lebrão.

Todo esse relato é para mostrar a preocupação de mais uma espécie invasiva que se alastra como os javalis (artigo da edição anterior da revista COCAPEC, nº 115), animal de tamanho pequeno em relação ao javali, porém promete bastante estragos em nossas culturas.

Fonte:  BBC Brasil –  Mônica Manir

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